“… adquiri conhecimento, acumulei chancelas, construí relevância na minha área de ação e, sim, posso dizer que conquistei reconhecimento e fui muito bem remunerado por isso. Certamente, não posso dizer que fui malsucedido na minha trajetória profissional, mas também não posso negar a estranha sensação de que escorei a minha escada num muro que não é o meu. ” Relatos como esses têm se tornando cada vez mais frequentes em dinâmicas de autoliderança e processos de coaching com executivos em posições estratégicas nas empresas, revelando a insatisfação de muitos deles com o desenho das suas vidas. Não estar na justa medida é como ser um barco à deriva. Perdidos de quem somos e distantes do que queremos, vagamos ao sabor do acaso, buscando referências que preencham a falta que sentimos de nós mesmos. Desconectados da essência nos falta a coragem de ousar e a capacidade de ser mais. Modismos se encaixam como viés de adequação. A ousadia do outro, na ausência da própria, surge como oportunidade de conexão com um contexto.
Muitos profissionais, cada vez menos senhores do seu destino, na condição de cavalos e não de cavaleiros como lhes é devido, perdidos do próprio caminho, reproduzem qualquer direção. Trilhas solitárias, becos sem saída, silêncios que reverberam, vozes sem eco. Zumbis de si, referenciados no outro. Reféns do alto custo de não saber quem são, nem do que podem realizar, seguem perdidos, submetidos a referências do que supostamente os concede aparência, mas os priva da essência. Nas evocações de fé esperam por algo que os faça encontrar coragem de vasculhar no porão e trazer à consciência um sentido que os estimule a seguir em frente. Abstraídos, atraem pessoas e circunstâncias que os fazem confrontar a dor de não viver a própria medida e testemunhar o desatino de não conseguir ser quem, de fato, deveriam.
No conforto do amor relaxamos, na dor da escolha amadurecemos. O tempo passa, e sem um propósito que justifique o valor da conquista, o preço a ser pago é cada vez mais alto. Indefinidos e não desejantes, na calada da vida, resistimos e nos ressentimos. Cansados de esperar pelo o que não chega – sem voz nem escrita, perdidos do sonho e de um sentido, algumas vezes retardamos, outras desistimos. Tanta frustração e emoções doídas. Contudo, a mesma energia que derruba, ergue. Se por um lado cansados, por outro mais experientes. No tempo das vivências o peso das dificuldades, ansiedade e impaciência, mas, também, consciência e aprendizado.
Restrito o mundo dos que se guiam pelo externo. Reencontra-se quem olha para dentro e enxerga o que é, não o que acha. “Uma vez encontrado o centro, encontradas as raízes e asas. ” – Osho. No confronto com o autoengano, a ameaçadora perda da identidade de quem imaginávamos ser, traz como benefício o resgate do verdadeiro “eu”. Aqueles que aceitam como humano o próprio engano, libertam-se do apego à máscara e se permitem viver a benção da justa medida.
Waleska Farias
Liderança, Carreira e Imagem